Ela descia a rua São Paulo todas as quintas. Caminhando ia sentindo o calor do sol que marca sua presença depois das 12 horas. Depois de algumas semanas percorrendo o mesmo trajeto, em certa quinta-feira, a dois quarteirões do seu destino, na calçada oposta à do posto de gasolina (quando pode, ela prefere evitar passar por lugares onde há muitos homens aglomerados), um rapaz alto, loiro, de óculos escuros passou por ela, estavam mais ou menos no meio da calçada. Reparou nele como geralmente repara nas pessoas que encontra pela rua. O motivo dele ter sido destacado aqui vocês logo saberão. Continuou seu caminho sem grandes fatos. Às 14 horas chegou em seu trabalho. Isso se repetiu por mais duas ou três semanas. Via o mesmo rapaz sempre na mesma altura da mesma calçada e chegava em seu destino às 14 horas. Lá pela quarta ou quinta semana, o almoço atrasou, ela se distraiu no celular, vortex virtual de cada dia. Quando se deu conta, pegou suas coisas e apertou o passo. Descendo pela mesma rua encontrou o referido rapaz no começo da referida calçada, depois de tantos encontros seguidos começaram a se cumprimentar, afinal, já não podiam dizer que eram estranhos um para o outro. Seguiu seu caminho, com um pouco mais de pressa do que o habitual. Chegou em seu trabalho e já havia alunos na sala. 14:07. Na semana seguinte, organizou-se melhor e, caminhando com mais calma, foi ver o rapaz faltando um quarteirão para chegar. Sorriram. Entrou no prédio, foi para sua sala, havia uma aluna dentro da sala, tirou o celular da bolsa para ver a hora. 13:55. Sorriu de novo. Com o correr das semanas, percorrendo sempre o mesmo trajeto, passou a adivinhar que horas seria orientada pela altura em que encontrava o rapaz. Encontrou seu relógio. Quando estava atrasada, assim o sabia por que o encontro se dava no quarteirão de cima do posto de gasolina. Quando, raras vezes, conseguia sair adiantada, o encontro se dava mais perto de seu destino. E em todas as outras vezes, no intuito de ser pelo menos pontual, o encontrava mais ou menos no meio do quarteirão, na altura do posto, mas sempre na calçada oposta ao estabelecimento. Já não precisava tirar o celular da bolsa para conferir o horário, pois esperava por seu relógio caminhante. Tempo e espaço realmente andam de mãos dadas. Numa quinta, descendo a rua São Paulo, como já sabem que fazia sempre e sem grandes surpresas, não viu o rapaz. E agora? Ou estava muito adiantada, o que soaria improvável, mesmo para ela, ou estava muito atrasada, o que também causaria desconfiança. Entrou na sala. 13:58. Na semana seguinte, desceu a rua se sentindo curiosa, mas não o viu de novo. A experiência virou outra. E certamente O tempo foi caminhar por outros trajetos.
2 comentários em “o tempo é uma experiência”
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… que nos introduce en la danza magistral del tiempo… y el espacio urbano…
Muy bueno el artículo sobre esta creativa fotográfa claudia andujar que unió lo creativo de la fotografía a una causa justo y humana.
y la crónica también, me gustó porque muestra que dentro de la vida cotidiana de los quehaceres diarios existe una sincronía que no introduce en la danza magistral del tiempo…